Suicídio

Marina Pelosi
7 min readFeb 2, 2020
Foto: Marina Pelosi

Todos nós buscamos sentido pra vida. Diariamente passamos por situações que nos fazem questionar o que vale a pena.

Você já sentiu que sua existência não era útil?

Que não fazia diferença se era amado ou não?

Acha que tanto faz pras pessoas ao redor o fato de você estar aqui ou não?

Esses sentimentos, às vezes, são tão intensos, quando estamos num estado de profunda tristeza ou depressão, que nos fazem ter pensamentos de autoextermínio.

Você já tentou suicídio? Ou pelo menos pensou?

Eu já. E vou tentar te explicar.

Primeira regra. Não tenha pena de si mesmo.

Saiba entender seus motivos. Por mais que pareça tudo obscuro, existe pelo menos um motivo pra te deixar na situação em que está.

Se não consegue identificar: vá à terapia!

Preste atenção: você quer tirar sua própria vida! Entente o quanto isto é sério?

Estamos falando de você morrer. De não mais existir neste corpo, com todos os sonhos que tem, família e etc.

O que quero dizer é que não é possível que não exista pelo menos um motivo. Nem que seja patológico.

Se você está em crise, talvez a informação a seguir vai te chocar.

Preciso te dizer uma coisa: se já pensou em cometer suicídio você não tem vontade de morrer!

Como assim, Marina? Se quero me matar é porque quero morrer.

Não. Você não quer morrer. Na verdade a morte nos assusta sempre. Todos os dias!

Duvido que se um caminhão tentar te atropelar, você não irá se assustar e ficar com o coração acelerado!

Apesar de provavelmente não concordar comigo, sei exatamente o sentimento que está aí dentro: perda da vontade de viver.

Não estou deduzindo, pois é minha própria experiência!

Parece ambíguo, mas não é. Perder a vontade de viver não significa que você quer morrer, que deseja a morte e a não existência.

Parece? Sim. Mas o significado é outro.

Perder a vontade de viver significa que você perdeu o sentido, o prazer e acha que sua vida não é útil e não vale a pena existir. É um tédio sem fim, como se nada possuísse razão. E aí você se sente triste, angustiado e acha que precisa morrer, mas no fundo não é bem o que quer.

Eu me sentia assim. Aliás, ainda me sinto, às vezes. É comum sentir tédio de tudo e todos. Faz parte.

Já tentei contra minha própria vida e não tive coragem de continuar.

Achava que iria magoar profundamente minha mãe e isso contradizia meus pensamentos de não ser importante, porque eu pensava muito em todo sacrifício árduo que ela já fez na vida por amor às minhas irmãs, os doguinhos e eu.

Pense comigo… Se ela iria sofrer com as consequências do meu ato, é porque minha vida tinha pelo menos um sentido pra ela ou outro alguém, sabe.

E por não conseguir continuar, me sentia covarde todos os dias e falava: não sou mulher nem pra tirar minha própria vida.

Pense… que desespero!

Mas toda vez que o pensamento vinha e eu pegava o(s) instrumento(s) ou olhava pela janela de um prédio alto sem proteção, pronta pra executar e “encontrar minha paz”: eu simplesmente desistia.

Chorava com o sentimento de covardia e de angústia. Mas ao mesmo tempo sentia alívio por ainda viver.

É estranho. Eu sei. Mas foi assim que aconteceu comigo. Me senti covarde até entender sozinha que não queria morrer. Simplesmente tinha perdido o prazer de viver.

Você precisa causar pena nos outros?

No sufoco pra me entender, comecei a estudar alguns possíveis casos de tipos de suicídio. E este me deixou de boca aberta!

Ah… tanta gente que foi traída já quis se matar para criar o arrependimento na pessoa que traiu.

Passou até numa novela aí (sei lá qual) que uma mulher foi traída pelo marido, com a própria filha, e se matou não só pelo desespero mas para causar dor aos dois.

Mas, não é assim que funciona. Por mais que pensamos que o sentimento de remorso pode ser gerado no outro de forma intensa, não vale a pena interromper nossa própria vida por causa de alguém que não nos valorizou em nossa existência.

Dói. Mas é a verdade.

Quando estamos pra baixo reduzimos tanto nosso valor, comparando à opinião e ao interesse dos outros que nem nos tocamos que o remorso vai — talvez — chegar e que depois de alguns anos a pessoa nem vai lembrar que a outra existiu.

É a realidade. Você perde sua vida, sendo que poderia estar vivendo maravilhas com outras pessoas que te amam de verdade.

E mesmo se não existisse ninguém em sua vida, você pode se proporcionar prazeres inimagináveis!

Nem todo mundo nos ama como queremos. Isso não é motivo pra você não viver, pelo contrário, é motivo pra viver melhor com quem te valoriza.

E o que seria uma vida sem decepção? Monotonia certa!

Quero viver!

Depois de tanto gastar energias pra tentar entender e melhorar, aprendi a valorizar pequenos e grandes prazeres pra que eu pudesse me sentir feliz em viver, mesmo que fosse necessário abstrair vários ensinamentos que tive ao longo da vida. Trouxe aqui os 10 principais:

  1. O primeiro deles foi o amor da minha família e amigos por mim. Cada vez que alguém faz questão de me ver, me sinto importante e isso não é motivo pra eu estar feliz em viver? (Rimou)
  2. Depois pensei: a morte é inevitável. Por que cortar meu ciclo antes? Se ele não foi finalizado naturalmente e inevitavelmente, não faz sentido eu mesma interrompê-lo.
  3. Ainda no pensamento do segundo tópico, busquei em várias religiões alguns conceitos sobre suicídio, sem cunho de fé, apenas para conhecimento. Várias delas, as que acreditam em reencarnação, entendem que a volta da alma suicida ao mundo não é muito legal. Se for verdade? Se não for verdade? Quando o pensamento ruim vem, logo lembro que sinceramente não quero pagar pra ver o que acontece depois. (Se está ruim, pior pode ficar!)
  4. O pensamento pode sempre vir (e vai). Mas não necessariamente preciso acreditar que ele é real. Prefiro encarar como mais uma distorção cognitiva e tentar qualificar o positivo. (Lembra deste artigo?)
  5. O que eu gosto de fazer? Eu sei que enjoo das coisas, às vezes, por isso estou sempre tentando refazer a lista e ir trocando de acordo com meus tédios rotineiros e sempre vai ser assim. (Aceitei e ponto)
  6. Me desafio a fazer coisas novas. Visitar lugares que nunca fui. Comer comidas que nunca comi. E se, no mais tardar, eu não conseguir levantar, peço um açaí e tudo certo. (A alegria vem das tripas e do bucho cheios!)
  7. Sobre os demais prazeres da vida: Listei o que me faz bem e simplesmente executo, quando tenho vontade. Consequentemente, excluí rotinas que me faziam mal, principalmente as dominicais. Não me importo mais com determinadas regras religiosas e se eu for para o inferno por tentar ser feliz: Ok! Não acredito que Deus me fez pra ser infeliz e querer tirar minha própria vida. Mas, claro, tudo com consciência e responsabilidade com minha mente e meu corpo. Não adianta fazer nada com a mente fraca e sem ter fundamentos sólidos pra isso dentro de mim. ( — Não seja abestada, Marina!)
  8. Todo dia procuro buscar um sentido. Mesmo que seja o mesmo de ontem… Desde poder comprar um café no Starbucks até idealizar sonhos baixos e altos, obviamente, alcançáveis por meio de planejamento, para que não me sinta frustrada caso não os realize, por livre e espontânea desorganização.
  9. Ligo o foda-se quando necessário. Aliás, quando eu achar que é pra ligar. Não adianta me preocupar excessivamente com questões que fogem do meu controle e de minha responsabilidade.
  10. E por último, mas não menos importante: Prezo o sono. Dormir bem é essencial pra me sentir útil. Depois busco fazer coisas rotineiras como faxina, limpar bosta de cachorro, tomar um banho, cozinhar uma comidinha caseira em casa ou até mesmo na casa de algum amigo.

Ei! Você não precisa seguir meus padrões

Quis apenas falar um pouco da minha experiência pra clarear a mente de quem está perdido.

Se tiver experiências próprias, por favor, compartilhe pra nos ajudar também!

Mas, olhe só, uma coisa é totalmente genérica:

Cada segundo de vida é motivo de alegria.

Olhe quantas coisas podemos aproveitar e presenciar. Coisas simples mesmo! Não estou falando de ir pras Ilhas Maldivas — mas se puder, vá!

Ah… Respirar quando o nariz está desentupido é tão bom!

O vento no rosto, a brisa do mar, a textura da piscina, de um rio…

Um dia árduo de trabalho seguido de um descanso em casa. Que bom que estamos com emprego!

Se não tivéssemos emprego! Que bom que mesmo com dificuldade estamos podendo respirar e ter a oportunidade de correr atrás de nossos objetivos! De melhorar.

Fazer cocô! Vai falar que não é bom? É maravilhoso.

E por aí vai…

Há tanta coisa pra sentir prazer na vida. Só que a gente não se deixa enxergar.

Quais são seus bons motivos? Tenho certeza que existe pelo menos um!

Os maus motivos acabam se tornando bons motivos para aprendizado e evolução.

Então não existem desculpas pra não viver! Você merece ser feliz, por mais que não acredite e se sinta culpado!

E se no fim, depois de praticar tudo isto, você ainda se sentir sem prazer: vá transar!

Um chocolate também serve…

Obrigada pela leitura

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Marina Pelosi

Escrevo sobre o que vivo ou vivi. Foi uma das formas que encontrei para me sentir bem.