Falar sem querer

Marina Pelosi
5 min readFeb 7, 2020
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Nós pensamos muito o tempo inteiro. Muitas vezes o pensamento fica lá dentro e não colocamos pra fora. Não acho que seja errado, mas também não acho que temos que somatizar tudo em nossa mente.

Por outro lado…

Você já passou por uma situação de querer falar algo que sente, conseguir falar e depois se arrepender achando que foi mais do que devia?

O que fazer?

Sinceramente, não sei. Mas é bom pesar os fatos na balança pra melhorar o sentimento de culpa.

Sempre enfatizo que somos mutáveis.

E somos. Mesmo conversando com todos sobre tudo, já fui muito introspectiva em determinados assuntos e isso me fez mal. As pessoas sempre achavam que eu era feliz o tempo inteiro ou que não tinha determinadas frustrações.

E tinha. As frustrações eram bem presentes.

Tentei mudar.

Fui de vários extremos a outros demais extremos e aprendi que não importa o quanto nos esforçamos pra ser algo, pois depende muito da situação e de outras coisas.

Por exemplo, por mim, eu viveria no campo isolada da sociedade e literalmente sozinha e sem falar com ninguém. Mas, em determinadas situações, não gosto de me sentir só.

Em outras demais situações, falar é importante por mais que eu não queira ou que doa em mim.

Sobre a fala, tentei tanto mudar que acho que hoje tenho um problema sério em identificar em qual situação devo ficar mais quieta e em qual devo realmente expor o que é necessário. Mesmo assim, é algo difícil de definir, pois depende muito do dia e do destinatário da informação.

Às vezes, somos tão sinceros com as pessoas e conosco não.

Às vezes, escondemos nossos sentimentos e depois fica tão difícil de explicar depois o porquê.

Às vezes é só uma questão de espera da hora certa pra dizer.

Tenho tentado melhorar, mas até então não sei qual é a melhor solução. Porque sempre que posso ser sincera, eu sou. Só que existem situações que são realmente quase impossíveis de falar a verdade no exato momento em que acontecem.

O fato é que sempre vai existir uma mágoa ou uma frustração. E você vai ter que falar, por mais que doa em você ou em outrem.

E estamos suscetíveis a ser o magoado, o magoador ou ambos…

É difícil, mas tente não se culpar

Sempre que lembro de situações que passei por ter falado o que eu realmente sentia e não foi legal tento não me culpar.

Analiso o que realmente errei e tento ser melhor na próxima. É difícil e dói muito, mas não podemos mudar o passado. Nossa vontade é voltar atrás e simplesmente calar a boca.

Ao mesmo tempo, tento lidar com a culpa de não ter falado o que realmente devia ser dito. Queremos voltar atrás pra falar tudo.

E, como sempre digo, nunca saberemos o que teria acontecido se agíssemos diferente e se realmente seria melhor. Entende?

Somos praticamente reféns de um tempo que acontece sempre contínuo, ou seja, não muda nada. Não se volta atrás e não se avança nem um segundo sequer.

Ou enfrentamos o que passou, ou ficaremos sempre no talvez. Ou tomamos uma decisão e assumimos as consequências, ou ficaremos de novo no talvez. Simplesmente, sem sair do lugar. Reparou?

Eu erro muito. Todo dia.

Ainda não sei lidar com isto. Me acho uma negação em alguns tópicos na área de comunicação. Mas, é a vida. Precisamos nos expressar e, antes de tudo, nos entender.

Não é tão simples de aceitar e viver. Mas o processo é simples.

Você não está na mente do outro.

As informações são processadas na sua mente de formas completamente diferentes. Não se sabe como o outro vai reagir e, sei que dói, mas a outra pessoa quase nunca vai reagir como você faria ou gostaria.

Mas, Marina! Seria um sonho se isto acontecesse e no fundo sempre espero que sejo assim e me frustro!

Eu sei. Mas não é assim que funciona, por mais que eu também queira pensar assim. Depois de tanto quebrar a cara, talvez um dia a gente perceba e melhore cada vez mais a forma de agir e de conviver.

Se relacionar é difícil. Uma hora você vai ouvir o que não quer, vai falar o que não quer, vai ver o que não quer. As pessoas vão entrar na sua vida, você pode se apegar e por uma simples conversa elas irão embora, ou você vai decidir ir.

De um todo nem é tão complicado assim. As coisas simplesmente acontecem. O tempo vem e passa. E acho que no fim de tudo, o que vai mesmo importar, pra diminuir nossa culpa, é o quanto conseguimos dominar a nós mesmos nas situações que se passaram.

Turbilhão de sentimentos

O nervosismo, a raiva, tristeza e frustração nos influenciam a agir como quem não somos e se você não sabe se dominar, vai se sentir como se fosse outra pessoa, numa fase de minutos. Quando não acontece nada grave, tudo bem. Mas quando exageramos, é bem chato e às vezes o remorso é cruel.

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Eu mesma: me sinto muito mal por ter vivido alguma situação de um jeito ou por ter me permitido falar coisas que não queria, e até mesmo por ocultar o que não deveria.

E, conversando com pessoas, percebo que o sentimento é o mesmo para várias. Talvez seja algo em que precisamos refletir.

Por isso senti vontade de falar sobre isso. Tanta coisa que passa em nossos dias. Tantas situações, tristezas e motivos pra pensar.

E o tempo? Passando… registrando tudo.

O domínio próprio é algo difícil de ser alcançado. Mas talvez não seja impossível.

Saber falar o certo, no momento certo, sendo imparcial com seus próprios sentimentos e buscando ser claro: É algo que busco melhorar todo dia que é tão difícil. Mas, cara, eu questiono muito que não deve ser impossível.

Não pode ser! Pelo menos acho que não.

Se a vida tivesse apenas um desafio, acho que este seria a convivência. De um todo, não podemos negar que é um dos mais difíceis. E se estamos aqui pra evoluir, talvez seja por isso que sentimos dificuldade de interagir, fazer o que consideramos certo e ao mesmo tempo buscar não magoar o outro, mesmo sabendo que a probabilidade disto acontecer é quase máxima.

Tento me refugiar em frases que considero importantes:

Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade. Provérbios 16:32

Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer milhares numa batalha. Buda

Dominar a si mesmo é um verbo que está inteiramente ligado ao conhecimento de si, da situação e das pessoas envolvidas. É abrir mão de várias coisas pra resultar na boa convivência, fraternidade e no amor.

Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. 2 Pedro 1:5–7

Talvez um dia eu consiga.

O importante é que seguirei tentando…

E no mais tardar, ainda poderemos perdoar e sermos perdoados.

Obrigada pela leitura!

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Marina Pelosi

Escrevo sobre o que vivo ou vivi. Foi uma das formas que encontrei para me sentir bem.